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imagem editada de Glaucia Shigetomi |
Inspirada com os acontecimentos em Mariana-MG, um breve
conto que suspira em minha alma:
E foram anos e anos sofrendo calada... a exploração sentida
no corpo, agressões inúmeras. Mexiam em seu corpo como bem queriam, até
perfurações fizeram. E ela só podia sofrer calada, contendo suas lágrimas nos
momentos de dor quando dilaceravam seu corpo... dar vazão às suas emoções,
nunca! Ah, em muitos momentos ela quis gritar: Parem! Mas tamanha era a
opressão que seu grito era silenciado e seu corpo explorado, sua riqueza
arrancada.
Abençoadas eram as noites escuras e silenciosas, embora
raras. Mas à luz da lua ela regozijava e recuperava suas forças porque saberia
que a opressão continuaria, embora em seu seio guardava a esperança de um dia
ele acordar e parar, libertá-la da exploração, voltar para os dias de paz,
harmonia e, até mesmo amor... ah, aqueles tempos de poderem caminhar juntos,
ela lhe fornecendo alimento para o corpo dele, ele fornecendo alimento para sua
alma... bons tempos! Boas recordações...
Mas muitas luas se passaram nesse sofrimento silencioso,
afinal, o que fazer? Fora assim com sua mãe, a mãe de sua mãe, a mãe da mãe de
sua mãe... e, seria assim com sua filha...
Eis que desse pensamento surge-lhe um força ancestral que
nem ela sabia de onde vinha, só ouvia Ana, sua antecessora suspirar em seu ouvido
palavras de poder há tempos esquecidas, palavras de poder de toda sua linhagem!
Até a lua temeu sua força e se refugiou-se em seu quarto minguante, deixando
somente uma pequena parte à mostra, espiando para ver se toda essa força há
tempos represada seria suficiente para romper com os elos de exploração que
sofria. Ela que era Maria, agora era MariAna...
No silêncio que há tanto fora sua companheira ela deixou-se
derreter, e suas águas rolaram montanha abaixo... tamanha era sua força que
céus e terras tremeram. E lá seguia ela e a força de suas ancestrais limpando e
varrendo seu corpo abençoado, que por hora dizia CHEGA!
E seus movimentos foram sentidos até a guarda-mor e sua ira
era tanta que 2 grãos-mestres foram mortos, não se sabe se pelos movimentos de
suas águas turbulentas, consequência de tanta repressão, ou se por medo de
enfrentar as consequências de seus atos desumanos... só sabemos que morreram,
deixando um legado imundo onde o ter prevalecia o ser....
Ela, seguia seu caminho. Arrastando tudo que via pela
frente: casa, carros, árvores e animais, espalhando a lama que cobria seu corpo
e por mais que parecesse que MariAna estivesse se vingando, ela somente fluía
em sua liberdade, somente deixava as marcas de suas dores aparecerem o que
evidenciava a sujeira das ações dele, seja pela exploração, ou pelo mau uso de
tudo que outrora ela lhe oferecera, ou por achar-se superior, ou outras ações e
motivações que não se sabe.
Marianne, ícone da Revolução Francesa, homenageada em nossa
cédula de dinheiro, agora estava coberta de lama, assim, à mostra em todos nos
noticiários da TV, nacionais e internacionais... dizem alguns entendidos no
assunto que compostos químicos misturados à lama deixarão o solo que tocar
infértil, eu tenho minhas dúvidas... MariAna pode ter despertado o poder de sua
ancestralidade por onde passou e, o que agora é um caos, é exatamente o campo
selvagem onde essa força pode ser manifestada.
Operação Lava-Jato, reparos não realizados pela Vale do Rio
Doce, Eduardo Cunha, Impeachment, exploração dos recursos naturais (e financeiros)
desenfreadamente e inconsequente, enfim... muita lama que agora escoa pelo
território brasileiro.
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imagem de Emma Bianchini |
E daquela frase “sou brasileiro, não desisto nunca” lá vamos
nós levantar, sacudir a poeira, e, do solo aparentemente infértil, reconstruir!
Seja participando ativamente dos conselhos e fiscalizando o que rola na
política, seja nas ocupações das escolas fechadas pelo governo, seja na
criatividade de se re-inventar nas crises!
Re-construir do nada é que se pode criar uma nova realidade,
com a experiência de quem já viveu algo que não deu certo!
Sou brasileira, não desisto nunca!
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