E diz a lenda que quando ela bate
à porta não tem negociação, quando A MORTE chega, não adianta fingirmos que não
ouvimos seu chamado, não adianta trancar a porta, dizer que não está... quando
chega o momento, chega! O que nos cabe decidir é resistir à morte e sofrer ao
se agarrar ao ciclo que já encerrou ou se entregar, deixar fluir e deixar
morrer o que não nos cabe mais.
Numa das minhas peregrinações vi
o véu ou a sombra da foice da morte, e, claro, num primeiro momento me
assustei, pensava no meu filho e como ele ficaria sem a mãe, pensava nas pessoas
queridas, nos sonhos ainda não sonhados, nos planos ainda não traçados, na dor
que poderia sentir, no medo do que fazer se morrer. Quando me entreguei, esperando
a morte (até pensava em como seria dada a notícia para minha família, como
retirariam meu corpo do alto da montanha) meu coração desapertou... meu medo
dissipou e, tudo ficou leve. E, à partir desse dia, muitos dos meus medos se
foram, muita sede de viver brotou em mim, a força para viver certos “impossíveis”
passei a encontrar em meu ser, “enquanto não pudermos confiar-nos à morte não
poderemos, na verdade, confiar-nos à vida” Sallie Nichols.
Em muitas culturas primitivas
existia um rito de passagem que nos levava à conversar com a morte, isso porque
sempre nos traz muitas transformações. E, a vida é recheada de mortes...
afinal, morremos como bebês para virar crianças, morremos como crianças para
virar adolescentes, morremos como adolescentes para entrarmos na vida adulta,
afinal, não morremos o mesmos que nascemos [ufa! Ainda bem!], mudamos,
evoluímos, no mínimo aprendemos! Assim é a MORTE, ela vem e nos transforma.
É o momento que acoplamos, que
digerimos a ‘nova visão’ adquirida no enforcado e, não precisamos mais ficar
pendurados de ponta cabeça. Que aceitamos a guinada que nossa vida tomou e,
mudamos com ela. Assim como nenhum por do sol é igual ao outro, nenhum dos
nossos dias é igual ao anterior.

Talvez o medo de deixar a flor que
gostamos e conhecemos tão bem, bater as asas e voar para mais longe que tanto
nos assombra seja porque é um rito solitário. No momento da morte, será somente
você à atravessar essa porta, não terá como pedir conselhos, ajuda, ler um
livro de auto-ajuda, nada! Profundas transformações acontecem dentro da gente,
em momentos que ficamos a gente com a gente mesmo. Esses são verdadeiros ritos
de passagem e, por mais que tentamos contar, compartilhar o que sentimos, não
conseguimos colocar em palavras tudo que vivemos/entendemos.
Ou talvez seja o medo de se
despir das crenças, máscaras e armaduras que vestimos no dia-a-dia, porque
quando a morte chega, nós sabemos que só entraremos no Submundo [subconsciente]
nus. Como viemos à terra, voltaremos à terra. Chegaremos como somos e não com o
que temos.
Aqui olhamos para nós mesmos e
deixamos morrer o que não nos serve mais. Aqui gosto de pensar no retorno de Saturno,
o senhor do karma, chegando e chacoalhando meu mundo, deixando somente o que é
firme e sólido, o resto desmorona.
Boa semana de transformações!
Deixe morrer o que não é mais seu!
Permita-se renascer nova (o) em
folha!
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